quinta-feira, abril 01, 2004

25 de Abril

Bom, e já que estamos a celebrar os 30 anos da revolução dos cravos, espero bem que a RTP finalmente tenha a coragem de exibir as imagens do Pinheiro de Azevedo, Primeiro-Ministro do VI Governo Provisório, a fazer o manguito ao povo da varanda do Palácio de São Bento!!!

E, já agora, que mostrem aos portugueses que somos o único País do mundo cujo Governo fez GREVE!!!

Crenças e Descrenças...

Calma! Não vou falar sobre religião.
Ontem estive a ver "Portugal Século XX" na SIC Notícias, e o episódio foi sobre o 25 de Abril. Ou melhor, sobre os acontecinmentios imediatamente a seguir ao 25 de Abril. E fiquei a pensar...
Quem diria...
É impressionante assistir às manifestações que na altura houve. Não pelas ideias, mas porque na expressão das pessoas consegue-se ver que elas acreditavam mesmo naquilo. Tinham ideias políticas, acreditavam nelas, lutavam por elas e saíam à rua. Mostravam CRENÇA.
E o que é triste é que isso foi há 30 anos...
Hoje em dia não acreditamos em nada, não lutamos por nada, não nos manifestamos.
Somos uma sociedade comletamente amorfa.
Mais triste ainda é que agora temos mais ou menos a idade que os nossos pais tinham quando se deu o 25 de Abril. E enquanto eles pensavam na política, no País, na sociedade; discutiam política, tinham princípios em que acreditavam, hoje em dia não temos nada. NADA!!!
Estamos completamente adormecidos... confesso que tenho uma certa vontade de atirar as culpas para cima de... Que se lixe.
Estamos adormecidos e a culpa é, principalmente, da economia e da televisão.
Da Economia, porque hoje em dia consumimos tanto que só pensamos em trabalhar, em ganhar dinheiro. Temos mais com que nos preocupar do que com a política ou a sociedade.
Da televisão, porque controla em absoluto as nossas reacções. Zanga-se por nós, questiona por nós, manifesta-se por nós. Só que não diz aquilo que efectivamente deveria ser dito... E nós não queremos saber. Temos mais que fazer. As preocupações já são tantas... Por outro lado, é principalmente a televisão que nos vende todos os bens que não precisamos mas nos quais gastamos dinheiro...

Confesso que tenho muita pena de não ter uma verdadeira crença. Ou melhor, eu acredito em determinados princípios, mas também eu sou amorfa. Também não luto por eles.
Sejamos francos: havia de ser bonito eu ira para a Avenida dos Aliados, sózinha, com cartazes, manifestar-me contra a construção do aeroporto da OTA... ou contra o Euro 2004... ou pedir explicações à classe política sobre o Hospital de Tomar ( noutro post explico)...

Confesso que gostava de ver a política a agitar de novo a sociedade. Gostava de ver as pessoas a acreditarem de novo em qualquer coisa e a manifestarem-se por ela.
Hoje em dia os banhos de multidão estão reservados aos jogadores de futebol. É isso que move a sociedade e é nisso que as pessoas acreditam.

Lá está, apesar da revolução, mantém-se os três "Fs" do tempo da outra senhora: Fado, Fátima e Futebol... com as devidas adptações.

quarta-feira, março 31, 2004

A Casa da Música

Soube, também, nestes últimos tempos, de uma notícia absolutamente fantástica, digna de registo nos anais do disparate português. Em termos de obras públicas.
A Casa da Música, aquele elefante branco da Sociedade Porto 2001, aquela fantástica obra-prima da arquitectura que nos custou a todos - portuenses e portugueses - uns "milhõezitos" de contos, não tem um fosso para a orquestra!!!
Ou seja, na Casa da Música não há a possibilidade de apresentar Óperas porque não há onde enfiar a orquestra!!!
Ópera? O que é isso? Isso é música? É cultura? Nem pensar...
A Casa da Música vai servir para dar uns concertos de piano...
Pois.
Quem era responsável pela coordenação do projecto com o gabinete de arquitectura era o Sr. Pedro Burmester... Pelo menos, para isso lhe pagavam... bem, não vou dizer aqui quanto. Não para já.
Ele é que indicou ao gabinete de arquitectura quais as infra-estruturas que seriam necessárias para a Casa da Música.
Ópera?
O que é isso?
Concertos de piano é que é música. É que é cultura.

Quem é que lhe vai pedir satisfações???
Melhor: esta notícia já veio a público???

Castelo de Paiva

Foi, sem sombra de dúvida, a mais importante notícia dos últimos tempos neste País à beira-mar plantado.
E porque é que foi notícia?
Porque foi uma surpresa: para quem está por dentro das Leis, porque foi uma decisão justa, ponderada e, acima de tudo, corajosa.
Para os leigos, porque... a culpa morreu solteira.

Independentemente da minha opinião... que já ficou escrita acima, aquilo que mais me surpreendeu foi o chorrilho de disparates que a decisão provocou na classe política.
É impressionante a forma inconsequente como aquela gente atira bitaites para o ar, sem qualquer conhecimento de causa e com um ar extremamente entendido! E o pior de tudo é que os jornalistas vão atrás...
Não percebo.
Que familiares das vítimas digam disparates do estilo "O que aconteceu aqui foi uma vergonha nacional. Os únicos culpados da queda da ponte foram as 59 pessoas que ali passaram", ainda compreendo. Foi um choque...
Mas os políticos???

Na quinta-feira à noite gravei as notícias, exactemente para ficar com um registo das declarações dos políticos.
Tinha que sair o lugar comum: "A culpa morreu solteira", quer da boca do Dr. Francisco Louçã, quer da boca do Dr. Jorge Coelho. Este último, diga-se em abono da verdade, demitiu-se. Logo. Imediatamente. Reconheceu a sua responsabilidade...
Mas como é que eles sabem que a culpa morreu solteira?
Como é que o Dr. Francisco Louçã sabe que a decisão é injusta?
Como é que ele sabe que a justiça está de rastos?
Ele leu o processo?
Ele assistiu à produção de prova?
Ele sabe alguma coisa de Direito?
De Direito Penal???
Acho que lhe passou um bocado ao lado o facto de o PREC já ter acabado e que hoje em dia existe uma coisa chamada "PRINCÍPIO DA LEGALIDADE". Já não se acusam pessoas só por necessitar de atirar as culpas para cima de alguém...
Não, a culpa não morreu solteira. A decisão não é injusta. A justiça não está de rastos. Aliás, provou que está de muito boa saúde!!!
As pessoas que foram acusadas pelo Ministério Público nunca poderiam acompanhar a culpa para ela morrer casada. Porque aqueles que o Ministério Público entendeu por bem acusar foram as únicas 6 pessoas que assinaram documentos a informar os superiores de que a ponte necessitava de obras. Ou seja, só porque assinaram os papéis é que são acusadas. Se nada tivessem feito, não seriam arguidos no processo. Como os seus superiores, que guardaram a informação na gaveta e nada fizeram...
Mas há quem saiba melhor...

Depois criticou-se o facto de o Juiz ter entendido que a queda da ponte se ficou a dever a causas naturais.
E se efectivamente o que causou o colapso foram 5 cheias do Douro seguidas, extraordinárias, situação que acontece de 300 em 300 anos? Seria previsível aquele colapso???
Tal como era previsível que se uma cegonha fosse contra as linhas de alta tensão haveria um apagão em Lisboa?
Ou como é previsível que quando se der um terramoto em Lisboa - e sabemos que ele vai acontecer - muita gente vai morrer, como bem dizia o nosso Colega, Dr. Godinho de Matos?
Há culpados para esses factos?
É muito fácil apontar dedos a posteriori. Mas são factos de difícil previsão. São factos imprevisíveis. E por eles serem imprevisíveis não se pode contar com eles e, acima de tudo, não se pode responsabilizar penalmente pela sua verificação.
Se assim não for, o Dr. Santana Lopes que se vá preparando... está a fazer obras e a autorizar construções em zonas de alto risco sísmico...

No fundo o que se quer é um "bode expiatório". Para a culpa não morrer solteira... Ainda que com isso se enterre a JUSTIÇA!